Tali

Oi! Eu sou a Tali, vou contar agora um pouco da minha história pra vocês. Minha história começa assim...
Quando eu era pequena eu morava com minha mãe, meu pai estava preso, antes de eu vim ao mundo pegaram meu ele vendendo droga.
Minha mãe ia visitar meu pai na cadeia, mas quando ela soube que meu pai ia virar evangélico ela não quis mais saber dele...
Nessa época, na última visita a cadeia ela engravidou, lá estava eu, vindo ao mundo.
Enquanto meu pai estava preso eu fui levando a minha vida sofrida, minha mãe não parava em casa vivia na rua, às vezes eu passava fome, frio...
Certo dia, quando eu completei 4 anos meu pai saiu da cadeia. Nesse dia eu, meu irmão e minha mãe estávamos sentados na frente de casa quando de repente um homem estranho apareceu na esquina, nossa mãe correu, nos arrumou e tudo. Então aquele homem chegou e os dois começaram a conversar, depois explicaram toda a história, era nosso pai.
Na nossa casa não tinha muita cadeira, então eu e o meu irmão fizemos um banquinho de tijolos para nós e nosso pai sentar. Chegando a noite meu pai viajou, levando com ele o meu irmão, porque só ele era registrado no nome dele, eu estava registrada só no nome da minha mãe. Fiquei mais tempo morando com minha mãe, era terrível, eu apanhava muito, até de vara de espinho, mas meu pai não me deixou só, voltou para me buscar.
Fui morar com meu pai, lá eu conheci a minha madrasta, o nome dela era Angelina, ela era muito legal, me ensinou muitas coisas. No começo era muito legal, mas depois começou a ficar um pouco difícil, meu pai trabalhava catando papelão, latinha... Ele e meu irmão ficavam às vezes o dia inteiro e a noite inteira na rua.
Mas não pensem que meu pai era bonzinho, muito pelo contrário ele era muito agressivo, ele também batia muito em nós. Para vocês terem uma idéia ele batia até na minha madrasta, até que ela angustiada fugiu. Nesse dia só estava eu e ela em casa, ela me deixou na casa do visinho e partiu sem dar explicações. De noitinha meu pai chegou em casa e não havia ninguém, então foi me procurar e me achou na casa do visinho, me perguntou o que tinha acontecido e eu não sabia explicar.
Esse foi o tempo mais difícil da minha vida, porque era só o meu pai, eu e o meu irmão morando em uma casa.
Até que chegou o dia em que nós começamos a estudar, eu na primeira série e o meu irmão na segunda. Para nós era melhor estar na escola do que em casa.
Certo dia meu pai chegou nervoso em casa e bateu em mim e no meu irmão, mas bateu muito que a gente não conseguia nem dormir direito. No dia seguinte nós fomos para a escola, lembro que ficamos dizendo um para o outro que as nossas costas doíam, daí uma das professoras ouviu e falou para a diretora, nesse instante ela nos chamou lá e perguntou o que tinha acontecido e nós falamos tudo, eles chamaram o conselho lá, daí contamos tudo para eles e eles nos levaram para a casa de passagem, não era muito bom estar lá no meio da bagunça, tinha meninos e meninas juntos, dava a maior confusão. Meu pai ia nos visitar no fim de semana nos sábados levava presente e um monte de coisas para nós.
Só uma coisa foi boa e marcou a minha vida na casa de passagem, foi lá que tive a oportunidade de conhecer a praia.
Bom! Voltando no assunto, ficamos lá durante 6 meses, daí eles queriam nos dar para pessoas que não conhecíamos, ficamos preocupados eu e meu irmão, conversamos e decidimos que não, falamos que queríamos ir com uma tia que nossa. Então falamos para o conselho e no dia seguinte arrumaram nossas coisas e nos levaram para nossa tia.
Chegamos lá tão felizes, nossa tia tinha uma lancheria, ela preparou algo para nós comer... De noitinha nós fomos para a igreja, foi muito bom diferente.
Conhecemos várias coisas legais, coisas que nunca tínhamos visto na vida, assim minha tia nos cuidou durante um ano, com bastante dificuldades, até nos ajudava ela a vender rapadura nas ruas... Para ajudar no nosso sustento.
Depois que passou aquele 1 ano minha tia já não tinha mais como nos cuidar, então ela falou pra nós toda a história, disse que estava ficando difícil para ela continuar nos cuidando, então ela decidiu nos colocar em um orfanato.
Dois meses depois ela conseguiu vaga para meu irmão em um lar na cidade Boa vista do Burica, lar Bom Pastor era o nome do orfanato, eu fiquei muito triste porque ia me separar do meu irmão. Enfim, arrumamos as malas dele e o conselho veio buscá-lo, lembro que eu e tia fomos levá-lo, chegamos no lar era tão bonito, na chegada tanta surpresa e alegria, mas na saída muita tristeza, não foi fácil deixar um membro da família.
Tempo depois minha tia recebeu a notícia de uma vaga em um lar na cidade de Guaporé. Dessa vez foi a minha tia que me trouxe até Guaporé, chegando ali no lar foi uma surpresa ver tantas meninas convivendo junto, por um lado eu estava feliz pois pelo menos ia ter onde morar, mas por outro lado estava triste, por que estava me separando da minha família.
Minha tia foi embora e eu fiquei ali sem conhecer ninguém, mas passando um dia já comecei a me soltar, e vocês não vão da acreditar, no segundo dia de casa nova já quebrei o braço. Levei xingão, mas até que foi divertido, dali em diante já comecei a gostar daquele lugar.
Quando cheguei no lar tinha 8 anos, fique morando ali durante 3 anos, daí um casal se interessou por mim, o Maiquel e a Marcia, eles me adotaram, aquilo foi maravilhoso para mim, casa nova, família nova, escola nova, nos primeiros dias foi um conto de fadas, mas depois já começou a confusão, brigávamos quase todos os dias, normalmente por bobagens.
No fundo eu sei que errei, comecei a fazer coisas que eu nunca tinha pensado em fazer antes na vida, até que chegou o dia em que eu voltei para o lar, foi no dia 17-12-08, foi muito difícil para mim, chorava quase todos os dias, mas com o tempo consegui superar.
Hoje eu tenho 13 anos e já estou prestes a ter uma família novamente, a melhor coisa que poderia acontecer na minha vida é eu ser adotada poder trocar de nome, isso é um sonho pra mim, um sonho que eu sei que vai se tornar realidade.
Muito obrigado por vocês lerem a minha história de vida, quero aproveitar e deixar uma mensagem pra vocês.
Você jovem que tem seus pais, suas famílias dêem o máximo de valor que vocês puderem, pois eles AMAM vocês.